A proposta dessa exposição foi a de desenvolver imagens a partir de textos de autores lusófonos.
O autor que escolhi foi o angolano José Eduardo Agualusa e meu trabalho foi elaborado com base no livro Mulheres de Meu Pai e mais especificamente no trecho que está parcialmente reproduzido abaixo.
As mulheres de meu pai
José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa
“(Dançando com as rãs)
Despertei ao meio da noite com a rouca algazarra das rãs. O apartamento onde resido situa-se mesmo defronte ao largo do Quinaxixe, num prédio em fase de transição para o capitalismo, ou seja, com a fachada ainda suja e amargurada, a cair aos pedaços, mas muitos apartamentos já inteiramente recuperados pela nova burguesia. As traseiras dão para uma lagoa obstinada. Nos anos 50 habitava nestas águas uma quianda poderosa. As pessoas deixavam-lhe ofertas nos cruzeiros dos caminhos, comida, algum dinheiro, que os colonos pobres, recém chegados da metrópole, roubavam ao entardecer. Aquando da construção do prédio os engenheiros responsáveis pela obra optaram por drenar a lagoa, substituindo-a por um amplo pátio interior. Após a independência, porém, as águas ressurgiram com renovado vigor. Devoram tudo.”